Quando falamos em estresse, a primeira associação costuma ser com excesso de trabalho, prazos apertados e cobranças. Mas e se esse estresse for, na verdade, um sinal silencioso de uma doença crônica? Essa reflexão nasceu de uma experiência marcante que vivi como docente no programa Jovem Aprendiz.

Douglas (nome fictício) tinha 18 anos e estava concluindo o curso com entusiasmo. Planejava novas oportunidades, conciliava estudos e trabalho, e ainda cuidava da casa e da sua própria alimentação. Sua rotina era intensa: provas como SARESP, Provão Paulista, ENEM, além de freelas nas horas que sobravam durante de semana para complementar a renda.

No entanto, faltando apenas dois meses, notei uma mudança drástica e alarmante . Douglas, antes engajado, tornou-se agressivo, impaciente e respondia de forma ríspida aos colegas por motivos banais. Além da mudança de comportamento, o jovem passou a ter sono excessivo, cansaço e fadigas extremas, sede e fome frequente, além da vontades de alimentos ricos em carboidratos.

Um dia o jovem disse que passou a ter dores no estômago, quando orientado a ir no médico, Douglas sempre optava por cumprir as jornadas de trabalho, e o cuidado com a saúde sempre ficava para depois. Até que um dia, notei uma certa relação entre os sintomas e a alteração de humor, fiz a ele diversas perguntas tentando compreender os sintomas, das quais as respostas eram todas afirmativas, inclusive para cãimbras e desmaio (quando após dormir grande parte do dia, desmaiou ao tentar se levantar). Então perguntei ao jovem: Você já ouviu falar em diabetes? Douglas ficou com o semblante surpreso: “Minha avó tinha isso!”.

O Diabetes Mellitus Tipo 1 (DM1) é uma doença autoimune que pode surgir em qualquer idade, independente da alimentação ou porte físico. Ele interfere diretamente no funcionamento do organismo e nas emoções. Jovens com DM1 enfrentam desafios que vão além da saúde física, como podem passar a adquirir ansiedade, depressão e ideação suicida, principalemente porque o tratamento exige controle constante do jovem sobre as taxas de açúcar no sangue, que quando não tratadas, podem gerar consequências devastadoras como danos aos vasos sanguíneos, nervos e órgãos.

Atualmente, a justiça brasileira discute a possibilidade de pessoas com diabetes tipo 1 entrarem no rol de Pessoa com Deficiência (PCD), não por privilégios, mas para que pessoas com diabetes tipo 1 sejam asseguradas e possam ter o suporte adequados.

Empresas que investem em políticas inclusivas e programas de saúde mental, além de cumprem a lei, criam ambientes mais humanos e produtivos para sua empresa. Estresse não é apenas sobre carga de trabalho. Ele pode ser um alerta silencioso para doenças crônicas que mudam vidas. Como líderes, precisamos olhar além da produtividade e enxergar a pessoa por trás do colaborador.

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