Peter Parker é um dos heróis mais queridos da cultura pop, mas sua versão mais recente, interpretada por Tom Holland, gerou uma onda de críticas recorrentes: ele é “muito dependente” de Tony Stark. Fãs pediam um herói mais maduro, mais independente, mais próximo da figura autossuficiente dos quadrinhos clássicos.
Essa crítica, no entanto, revela uma profunda desconexão com a psicologia da adolescência. É preciso perguntar: “Quem éramos nós aos 16 anos?” Peter Parker é um adolescente órfão, atravessando a fase de desenvolvimento mais volátil da vida humana, e ainda carregando a “grande responsabilidade” de um super-herói. Longe de ser um defeito, sua dependência de Stark é o retrato mais realista da necessidade adolescente por mentoria e validação.

O Vazio e a Busca por Pertencimento
A adolescência é a fase da crise de identidade, marcada pela transição entre a dependência dos pais e a autonomia adulta. Para Peter Parker, este processo é brutalmente acelerado pela perda de seus modelos de segurança:
O Luto Precoce: Peter perde seus pais e, crucialmente, o Tio Ben. A ausência de figuras paternas e a dor do luto criam um imenso vazio emocional e um senso de responsabilidade esmagador.
A Figura do Mentor: Tony Stark, um bilionário brilhante, carismático e poderoso, entra em cena. Para Peter, Stark não é apenas um fornecedor de tecnologia; ele é uma figura substituta que oferece pertencimento e uma sensação de segurança. Peter busca em Stark a validação de que ele é digno não apenas de ser o Homem-Aranha, mas de ser amado e guiado.
A Validação Profissional (e Pessoal): A primeira grande validação de Peter é ser “escolhido” por um Vingador. O terno de alta tecnologia, as missões e o chamado para os Vingadores não são sobre a riqueza material; são a confirmação de que ele é visto, valorizado e tem um propósito. Para um adolescente que busca desesperadamente seu lugar no mundo, essa validação é um baluarte contra a insegurança.

A Psicologia por Trás da “Dependência”
O que os críticos chamam de dependência, a psicologia chama de necessidade de apoio para o desenvolvimento.
Necessidade de Apego: Na adolescência, o sistema de apego ainda está ativo. Peter, em um estado de vulnerabilidade pós-trauma, procura uma base segura. Stark é essa base. É natural que ele busque a aprovação de Stark, pois é através dos olhos do mentor que Peter define seu próprio valor.
A Função do Mentor: Um mentor fornece a Estrutura e o Espelhamento essenciais. Stark fornece a estrutura (as regras, os limites, os recursos) e espelha o potencial de Peter: “Você tem o que é preciso, mas ainda não está pronto para ser jogado ao mar.”
O Erro dos Críticos: A crítica de que Peter não é “maduro” o suficiente ignora que a maturidade se constrói gradualmente. É justamente o processo de se afastar do mentor (Homem-Aranha: Longe de Casa) e de lidar com a perda total da rede de apoio (Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa) que forja sua verdadeira identidade adulta.
O Verdadeiro Ato de Heroísmo: Aprender a Ser Autônomo
O arco do Homem-Aranha de Tom Holland é uma lição de psicologia adolescente sobre a conquista da autonomia. Ele não começa autônomo; ele aprende a ser.
A Conquista Pela Perda: O momento em que Peter amadurece de verdade não é quando ele destrói um vilão com a tecnologia de Stark, mas sim quando ele é forçado a abandonar tudo que o define. Em Sem Volta Para Casa, Peter perde Tony Stark (morte), sua identidade (esquecimento do mundo) e até mesmo suas referências mais básicas (Amigos, Tia May, a própria memória de quem ele é para os outros).
O Desaparecimento da Validação: A decisão final de Peter de pedir que todos se esqueçam dele é a prova máxima de que ele deixou de depender da validação externa. Ele aceita a solidão, o luto e a dificuldade, escolhendo o anonimato para salvar o mundo.
O “Novo” Herói: O Peter Parker que tece o próprio uniforme em um apartamento simples é o herói maduro. Mas ele só chegou lá porque teve um mentor para se apoiar primeiro e, depois, um mundo para desmoronar sob seus pés, forçando-o a encontrar a própria validação interna.
A história de Peter Parker é a de todo adolescente: um processo confuso, cheio de erros, que exige um porto seguro para retornar antes de poder finalmente navegar sozinho. A necessidade de um “Tony Stark” – seja um pai, um professor, um terapeuta ou um super-herói – é o que torna o Peter Parker de Tom Holland não menos, mas mais autêntico e inspirador como símbolo da complexidade adolescente.


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